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A Indústria 4.0 traz uma nova forma de comportamento das pessoas pela combinação das esferas biológica, física e digital. As tecnologias habilitadoras começam a repaginar toda a cadeia produtiva com base em uma nova dinâmica de consumo. Novos desafios para a manufatura que passa a ser demandada por mais flexibilidade e customização dos produtos.

De acordo com o IDC, uma melhor estrutura de análise de dados, beneficiada por uso dessas tecnologias impactaram em melhoria de 20% no lucro e 16% na eficiência operacional.

A Indústria 4.0 é um processo sem volta mas isso não significa que sua adoção é rápida e fácil. A compreensão dos benefícios é relativamente clara mas inseri-la no contexto de cada indústria é o verdadeiro desafio.

Contexto Atual

Em um estudo realizado pelo CNI em 2018, as empresas brasileiras foram classificadas em quatro gerações, sendo:

  • Geração 1 – produção rígida: uso de tecnologias digitais em função específica, de forma pontual (CAD);
  • Geração 2 – produção enxuta: automação flexível ou semi-flexível com uso de tecnologias digitais sem integração ou integração parcial entre áreas (CAD-CAM);
  • Geração 3 – produção integrada, uso de tecnologias digitais com integração e conexão em todas as funções empresariais (sistema de apoio e suporte a vendas baseado em Internet);
  • Geração 4 – produção integrada, conectada e inteligente: uso de tecnologias digitais com retroalimentação de informações na operação e para apoiar processos de decisão (gestão de negócios com apoio de big data e inteligência artificial).

Ainda de acordo com a pesquisa, em 2017, 75,6% das empresas estão na geração 1 e 2, 22,8% na geração 3 e apenas 1,6% das empresas estão na geração mais avançada.

As esferas da 4.0

A Indústria 4.0 extrapola os limites das linhas de produção e estende-se para uma integração completa da cadeia de produção – dos fornecedores até os clientes. Um ecossistema multidisciplinar que engloba as pessoas, tecnologias habilitadoras, integração e análise de dados.

Do lado dos fornecedores, vemos diversas soluções como:

  • Integração automática para controle de abastecimento de insumos;
  • Planos de suporte remoto e locação de equipamentos de fabricantes de máquinas;
  • Outsourcing para áreas de apoio como TI e TA;.

Na outra ponta, em contato com o cliente, há soluções distintas dependendo da estrutura da cadeia em que a empresa está inserida – B2B ou B2C. Como exemplo de uma relação B2C, a cadeia com 4.0 promove alterações na cadeia. O relacionamento tradicional – Indústria-Distribuidor-Varejo-Consumidor está experimentando variantes, como Indústria-Varejo e Indústria-Consumidor.
Diversas soluções estão apoiando essas novas formas de relacionamento:

  • Uso de IoT em lojas, como câmeras inteligentes e diversos sensores que conseguem coletar e interpretar as preferências de consumo e extrair inúmeros indicadores que contribuem para uma produção e venda mais otimizada e direcionada a cliente.
  • Multicanalidade – combinação de canais offline/online que preservam a experiência de consumo e também abrem novas opções de comunicação e coleta de dados que inferem no melhor entendimento do consumo.

Voltando nossa atenção dos limite das fábricas para dentro, temos inúmeros desafios em acelerar essas possíveis integrações que acontecem com fornecedores e clientes na dinâmica de produção. E por quê?
A massiva maioria das empresas existem antes da Indústria 4.0 e não estão preparadas para as grandes mudanças de cultura e tecnologia impostas por essa revolução.

Da fábrica para dentro

O Brasil, como explicado anteriormente, tem mais de dois terços das indústrias pouco integradas, como silos de dados, papéis e planilhas fazendo a ponta entre sistemas e bastante energia usada para gerar os indicadores de controle e gestão.

Com isso, limita-se o tempo para extrair o real valor desses indicadores e diminui significativamente a capacidade de resposta frente aos problemas. O resultado são diversos, como:

  • gestores sobrecarregados, cobranças excessivas, sem informação consistente para apoio;
  • gestão pressionada em reduzir as paradas de produção;
  • alto nível desgaste nas preparações para auditorias;
  • dificuldade na investigação de desvios de qualidade por carência de informações;
  • falta de controle da saúde dos ativos de automação;
  • alto risco na interrupção da continuidade do negócio por operar com sistemas obsoletos de controle.

Migração ou Adequação

Ao analisar os sistemas de controle das linhas produtivas para inserção na Indústria 4.0, no mínimo três cenários podem surgir:

  • sistemas antigos e isolados que não permitem integrações;
  • sistemas modernos que precisam de adequações para serem integradas a novas camadas;
  • sistemas modernos com comunicação apta para as novas integrações.

Os sistemas antigos impõe o desafio de alto custo de manutenção e imobilidade – nada pode ser feito, modernizado e opera-se com alto risco de longas paradas em caso de falha nos equipamentos. A estratégia que ganha força para trazer o tema 4.0 para a mesa está alinhada a continuidade de negócio. Essa decisão de investimento de capital para continuar operando chegará mais cedo ou mais tarde. Embora os ciclos de gestão evitem em muitos casos abordar o tema, o problema é real e iminente.
Nesse caso  é importante trazer parceiros que tenham experiência com a tecnologia obsoleta e ajudem a traçar a estratégia de migração para sistemas modernos. Um caminho seguro das etapas de atualização deve ser apresentado e executado de maneira consistente a fim de trazer menores impactos no intervalo produtivo para a substituição.

Para sistemas modernos, o investimento será de menor monta, com estratégia mais clara do ponto de vista tecnológico mas não necessariamente do ponto de vista do negócio. Portanto, é de extrema importância costurar muito bem a relação dor-solução-benefício para justificar as novas integrações. Podem existir sistemas modernos recentemente instalados (que ainda estão no ciclo de ROI) em que o desafio para uma nova rodada de investimento pode ser maior.

Nessa situação, a questão não é continuidade do negócio, escassez de peças ou alto custos de manutenção mas sim o valor dos dados que esses sistemas possuem, se corretamente tratados, podem trazer.

Além disso, cada cenário exige uma condução multidisciplinar (engenharia, manutenção, produção, qualidade, patrocinador financeiro e parceiros especializados) para tracionar as iniciativas que podem transformar um projeto piloto em roll out para aos demais sistemas.

Muitas vezes os departamentos buscam soluções isoladas, que respondem apenas partes do problema, são redundantes ou incompatíveis e não tem probabilidade de continuidade futura. São os projetos pilotos que já nascem mortos, sem uma análise fundamentada e alinhada ao negócio, que respondem apenas a demandas temporárias.

Orquestrar os participante do ecossistema e não perder o foco da dor a ser resolvida tem destacado as empresas que tem sucesso na transformação digital.